Reflexões quaresmais (II): A Cruz e o terror
“Ninguém tem maior amor de que aquele que dá sua vida por seus amigos” diz Jesus no evangelho de São João. Amizade compreendida como amor. Ou “Jesus, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim”, com todas as conseqüências, até a cruz. A cruz de Cristo encontra seu sentido maior no extremo do amor.
Nesta quaresma, a contemplação do sentido do amor de Deus, manifestado no Cristo crucificado, no envia até a realidade crucificada de nossos dias, em nosso mundo como ele é: crianças na Nigéria que se auto-explodem dirigidas por radicais islâmicos, com a finalidade de causar o terror. Mais de duzentos cristãos, reféns sírios do terror radical islâmico. Mais de vinte cristãos egípcios degolados na Líbia, por serem “gente da cruz”, pelo islamismo radical que, apenas pretende e consegue gerar terror. Curdos engaiolados e incendiados. Quatro milhões de sírios tiveram que abandonar seu país e se tornarem refugiados de guerras, etc. etc. Tudo para um mundo de terror. Segundo Anistia Internacional, mais de duzentas mil pessoas mortas na guerra da Síria, cinqüenta milhões de refugiados no mundo todo, fugindo de guerras e terrorismos. Seis mil mortos na guerra de Ucrânia, em aras de antgônicos interesses estratégicos russos e ocidentais... E as contas das barbáries inumanas praticados por humanos, continuam num longo etc.
As crucifixões romanas (também a de Jesus) tinham a mesma perspectiva: gerar o terror das pessoas.
Em nossa América Latina, não falta o terror, disseminado pela corrupção que enriquece alguns, ao tempo que empobrece a todos, a bandidagem que assalta e mata ou o narcotráfico com seqüelas de sofrimento, miséria e morte. O Papa Francisco falou no perigo da mexicanização da Argentina, quando fez referencia a que no pais do Plata, as drogas e seus comércio estavam na cabeça da violência e da insegurança de seu país natal. O Vaticano teve que pedir desculpas ao Mexico, que se sentiu “triste”, pela constatação papal. Porém, a violência gerada pelo narcotráfico, infelizmente, é constatável desde o México até a Patagônia. E isto é, sim, triste para toda a América. Menos se fala nesta questão na América saxônica. Porque será?
Também para o nosso querido Brasil e, especificamente, para nosso estado. Lembro de alguns anos atrás, quando, à noitinha, nossas ruas fervilhavam de gente: jovenzinhos estudantes que, alegremente, iam e voltavam dos colégios; coloridos transeuntes que, animadamente conversavam; velhinhos e crianças, famílias, sentavam nas calçadas em pequenos bancos ou em engraçadas cadeiras de balanço que procuravam o ventinho que amenizava o calor diurno... Em fim, a vida acontecia na simplicidade do dia a dia. Agora, não há absolutamente ninguém nas ruas. Penso que as pessoas ficam bem trancadas dentro de suas casas. O medo das motos aceleradas que roncam pelas avenidas, ou mesmo de bicicletas desenfreadas, ou ainda de jovens imberbes pedestres, possíveis assaltantes ou vingadores de, Deus sabe quais malfeitos, encasulam-nos, fazendo de nossos habitáculos pequenos bunkers protetores.
O tempo de Jesus não era menos complicado do que o nosso. Tanto é assim que o maior instrumento de terror do momento, a cruz, esmagou o próprio Filho de Deus. Contado entre milhares de malfeitores crucificados.
A União Européia, após os atentados contra o “Charlie Hebdo”, em Paris, trata de blindar-se contra a terror islâmico. E, ao mesmo tempo, percebe que, jovens europeus, de diferentes procedências estão marchando para a Síria e o Iraque para engrossar as filas terroristas. Não sei o que os psicólogos dirão disto, mas dá a impressão de que pelos motivos que forem, uma geração de psicopatas assassinos está surgindo da velha e cansada Europa de si mesma, de seus próprios egoísmos, a qual procura o risco da morte, o amor à morte. Do mesmo jeito, desde algum tempo, aparecem em países europeus, os que renegam de sua fé e de seu batismo, entre estrepitosas apostasias públicas.
As forças das trevas encarregam-se de espalhar terror e morte ao longo da história e também hoje. A contumaz hipocrisia histórica, de ontem e de hoje, continua gritando a Jesus crucificado: “Se és Filho de Deus, desce da cruz...” Jesus não deixou a cruz. A hipocrisia de hoje de nosso Ocidente, continua agindo do mesmo jeito, sem resolver absolutamente nada, além de defender seus próprios interesses. Ao mesmo tempo alguém rogou: “Jesus, lembra-te de mim quando começares a reinar”. Não houve resposta de Jesus para o primeiro. Entramos no silencio de Deus manifestado em Jesus. Mas houve palavra de Deus para o segundo: “Hoje mesmo estarás comigo no paraíso”.
Silencio de Deus ou Palavra de Deus. Há silêncio e há palavra. Depende de nós. Porque, certamente, Jesus continua crucificado por nós e para nós, para nos dar a Vida. O compromisso com o Senhor crucificado, hoje, é quem nos dá sempre sua Palavra de amor e salvação. É, entre os crucificados destes nossos dias que encontramos a Palavra da salvação. Compactuar com a perversão hipócrita de nosso mundo, deixa a Deus no silêncio, expulsa a Deus do mundo.
Apesar dos pesares, “Deus amou tato o mundo, que enviou seu Filho ao mundo, não para condenar o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele”. Ensina-nos o Evangelho de São João, porque em Deus não cabe nada que não seja amor que cria e que salva e que faz novas todas as coisas. Apesar de tudo.
Na cruz
Soneto ao Cristo Crucificado
(Atribuído a santa Teresa d’Ávila ou a outros autores – Pode ter sido composto por autor espanhol anônimo, mas a beleza da oração nos eleva a todos até hoje. Domingo próximo, de Ramos, iniciamos a Semana Santa, tempo de oração e de contemplação do Senhor, especialmente de sua Paixão, Morte e Ressurreição. Penso que esta oração pode nos ajudar a todos, especialmente na revelação da cruz que é o imenso amor com que Deus nos ama) (A tradução do espanhol ao português é minha. Tentei a maior literalidade possível)
Ano Mariano é para celebrar, fazer memória e agradecer, diz CNBB
Sobre armênios, política e massacres
Nestes dias passados e a propósito do centenário do assassinato em massa de mais de milhão e meio de armênios (segundo outros, um milhão), nos tempos da primeira guerra mundial, a mãos do Império turco-otomano, a causa armênia tomou uma certa atualidade. |
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Ano Santo da Misericórdia
São João Paulo II instituiu o segundo domingo da Páscoa como a festa do Jesus da Divina Misericórdia. Feliz intuição deste Papa, pois, seus sucessores insistiriam no tema, cada um do seu jeito. Bento XVI, em sua primeira encíclica nos lembrou que Deus é amor (Deus caritas est). |
Reflexões quaresmais (IV): A cruz e a amizade
Jesus, no evangelho de São João, diz: “Ninguém tem maior amor do que aquele que dá sua vida por seus amigos”. “Já não vos chamo servos, senão amigos”. “Vós sois meus amigos se fizerdes o que eu vos mando”. “O que eu vos mando é que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei”. |
Reflexões quaresmais (III): A cruz e o escravo
O Evangelho nos conta que Jesus foi vendido pelo amigo, Judas Iscariote, um dos doze escolhidos pelo Senhor. E que foi “comprado” pelos aristocratas responsáveis pelo Templo de Jerusalém. O dinheiro saiu do tesouro de próprio Templo santo de Deus. E que foram, exatamente, trinta moedas de prata. Era o que custava a compra de um escravo. O destino final deste escravo, como o de tantos outros, era a condenação, o flagelo e a morte. |
Reflexões quaresmais (II): A Cruz e o terror
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