Este trecho do Evangelho de João situa-nos perante o anúncio da proximidade da morte de Jesus, que se identifica com a chegada da “hora” da glória de Deus.
Jesus está em Jerusalém. Alguns “gregos” querem conhecê-lo. Pedem a um dos apóstolos, Felipe: “Senhor, gostaríamos de ver Jesus”. Felipe e André conduzem-nos até Jesus que explica para eles que:
1) “Chegou a hora em que o Filho do homem vai ser glorificado. Em verdade, em verdade vos digo, se o grão de trigo que cai na terra não morre, continua a ser só um grão de trigo, mas se morre, então produz muito fruto”. A morte de Jesus encontra seu sentido em produzir os frutos do amor de Deus. Se nos detemos um momento neste símbolo do grão de trigo, encontramos:
a) A natureza é assim. Toda a natureza vive produzindo seus frutos e dando a vida mediante outras sementes e outros frutos.
b) O fruto final do trigo é o pão.
c) O pão era (e ainda é) na cultura mediterrânea, o alimento básico das pessoas. Isto é, o pão é para a vida das pessoas.
d) O pão partilhado nos situa perante o milagre da multiplicação dos pães, isto é, perante o milagre da abundância da vida.(Sinal do reinado de Deus).
e) Há um longo discurso de Jesus, no mesmo evangelho que nos diz claramente que Ele é o “Pão da Vida”..(Sinal da Eucaristia: morte e ressurreição),
f) “Quando eu for elevado da terra, atrairei todos a mim”. O Cristo crucificado, sua Vida-dada na cruz, é o pão da vida para todos. (Sinal da vida eterna).
2) Conseqüências para nós:
a) “Quem se apega a sua vida, perde-a, mas quem faz pouca conta de sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna”. É o paradoxo da vida: perde seu tempo quem tenta reter a vida, cujo sentido está em ser dada. A vida foi feita para produzir seus frutos. De graça, no ritmo natural de todo ser vivo.
b) “Se alguém quer me servir, siga-me, e onde eu estou estará também meu servo”. Assim, pois, o seguimento de Jesus nos conduz a todos, para sermos grãos de trigo, na doação da vida que produzirá os frutos da vida eterna.
3) Na cruz de Cristo acontece da o “julgamento deste mundo” e, diz o Senhor: “Agora o chefe deste mundo vai ser expulso”
a) O centro da fé em Jesus e do seguimento real de Jesus, que veio, “não para condenar o mundo, mas para que o mundo seja salvo por ele”, está situado no amor até o extremo, na doação da vida, no momento do maior sinal da manifestação da glória de Deus, precisamente, em sua morte de cruz. Pois é neste momento, em que o amor de Deus chega até o ultimo degrau de rebaixamento na escala social dos homens. Chegando até a cruz, Deus nos diz que não há homem algum que não seja digno de seu amor. E assim, somos capazes de perceber que, àqueles aos que os homens tiram a vida, Deus a dá. Porque Deus é assim: sempre fiel e misericordioso. Não existe um Deus da morte e da vingança, mas um Deus para a vida eterna. Apesar de todos os pesares e de todas as forças malignas.
b) E é assim que “o chefe deste mundo” é jogado fora: o amor derrota o ódio, o perdão derrota a vingança, a bondade destrói o mal. Jesus, Deus e Homem, na cruz, derrota o diabo, o mal personalizado. Na cruz de Jesus transparece a maior luminosidade do ser de Deus, no momento maior das trevas que destroem e matam.
Concluindo: continuemos nossa caminhada quaresmal, com santo espírito de liberdade para o amor, para a fraternidade, para o perdão. Na oração e na meditação do Cristo crucificado e, com ele, descubramos e realizemos a Vida Nova que é pão-vida partilhado no amor até o fim.
Nós somos hoje, como aqueles gregos que se aproximaram dos apóstolos querendo conhecer Jesus. É Ele mesmo que nos fala para, com e como Ele, sermos grãos de trigo para a vida de todos.
Pe. Agustin sj